Noite calma. Os pássaros já dormem há muito, e daqui a duas horas levantam-se com o nascer do sol. A chuva já veio, a chuva já foi, e até já voltou. Eu não me mexi. Nem fechei os olhos. Estive o tempo todo deitado nesta relva amarelada pelo sol, sem pestanejar, com a chuva a martelar o meu corpo. A chuva está a ir embora. Ouço passos. Levanto o tronco e fico sentado. Apareces do nada, calmamente sentas-te à minha frente. Nunca te vi à frente, e já consegui perceber o que vais dizer.
Começo a ver os teus lábios mexerem em câmara lenta, a formarem a frase.
"Fala-me de ti..."
Não sei quem és, nem de onde vieste, mas decidi responder-te.
"Eu sou o último da minha raça. Não há mais ninguém vivo que partilhe este tipo de espírito. Estou sozinho... É duro, mas sobrevivo. Aprendi a sobreviver às minhas custas. Muitas vezes pensei que era mais fácil tombar para o lado e deixar-me ir, mas eu não tenho que sobreviver apenas por mim. Tenho que me manter vivo por todos os que partilham o meu tipo de espírito também. Por isso me mantenho vivo, por isso a chuva não me molha, nem me magoa."
Ela levanta-se e diz
"Percebo. Gostei de saber quem és. Até um dia."
2 comentários:
não és o único... és único à tua maneira, isso sim :)
Era para ser mais dramático. ;)
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