quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sobre a Vida

P.S.: Apesar de não ser convencional encontrar um Post Scriptum no início, achei por bem colocar aqui porque assim que acabei de escrever é que me apercebi de tudo o que tinha escrito. É um texto elaborado construído a partir de anos da minha experiência de vida. Espero que gostem. Sem mais demoras...




Quem me conhece bem, sabe que passei a maioria da minha vida num estado de isolação controlada. Desde que me lembro que sempre controlei a minha isolação, sempre a manter um nível bastante elevado. Nunca quis ter muito contacto com as pessoas nem me ligar muito a elas. Só comecei a ter interesses sociais por volta dos meus 14 anos. Bastante tarde, o que faz de mim uma desgraça a nível social, mas ando a aprender.

No entanto esta minha reflexão não vai ser sobre este tema, mas é-me necessário mencioná-lo na medida em que é parte integrante da minha vista do mundo, e não a posso separar da minha demonstração. Digamos que é uma forma de vos contextualizar e facilitar a compreensão da minha dissertação.


Ontem um dos meus professores universitários disse na aula uma coisa que eu já tinha descoberto por experiência própria. "Vocês podem ter coisas importantes para fazer um dia. Podem ter coisas importantes para estudar, podem ter trabalhos para fazer, enfim... várias coisas! Mas digo-vos isto... se não as fizerem, ao menos divirtam-se à grande! Porque pior que chegar ao fim do dia e dizer 'Raios, não fiz aquele trabalho importante' é chegar ao fim do dia e dizer 'Raios, não fiz aquele trabalho importante, nem me diverti nada'. Isto no fim do dia é um enorme vazio que vos faz sentir. Deixa uma pessoa com aquele sentimento de vazio, de não existência. Não houve nada que se aproveitasse daquele dia.". Eu recentemente tinha chegado a essa conclusão como consequência de uma conversa de uma conversa que tive com uma amiga de há alguns anos. Começou pelo facto de ao termos recordado algumas coisas, eu ter um sentimento neutro a cada uma delas. Algumas delas foram coisas boas, outras foram más, no entanto, não consegui formar nenhuma emoção quanto a isso. Quando me encontrei sozinho é que decidi desenvolver raciocínio no sentido de perceber o porquê e a conclusão a que cheguei é que não há nada que me faça recordar essas alturas de forma boa. Foi um período monótono. Foi um largo período em que vivi restringido a um único sentimento, e isso aos poucos tornou-se a norma para mim.

Ao longo de muitos anos de conversas comigo próprio cheguei à conclusão de que TUDO é relativo. A verdade é relativa, o momento é relativo, a memória é relativa, a própria vida é relativa... Como eu tinha aprendido por experiência própria e o meu professor referiu ontem, o facto de não fazermos algo importante nem nos divertirmos, é um vazio na nossa vida, por isso, não acredito que possamos dizer que realmente estamos a viver. Uma "vida" assim aproxima-se mais de "passagem de tempo" do que "viver" ou "estar vivo". A verdade é relativa... A minha verdade não é o mesmo que para o resto do mundo. O que de facto acontece é que existem um sem número de Verdades diferentes. Existe uma Verdade para cada pessoa no mundo, e depois há uma "Verdade Colectiva" onde se enquadram as regras sociais. Digo isto porque tudo o que cada pessoa vive é filtrado com toda a nossa vida passada. Isto torna cada um de nós em um Universo de uma pessoa só. Somos todos verdadeiramente únicos, e totalmente impossibilitados de perceber quem nos rodeia a 100%. Um simples "Olá" nunca é apenas um simples "Olá". Cada "Olá" que seja proferido por uma pessoa, sai dessa pessoa carregado com todas as experiências de vida dessa pessoa, e quem o ouvir vai filtrar o "Olá", e traduzi-lo de acordo com a sua própria experiência de vida. O meu "Olá" e o "Olá" de qualquer outra pessoa no mundo podem ser muito próximos, mas nunca serão iguais.

Somos muitos habitantes no mundo, e tratamo-nos todos como estranhos, com frieza, quando no entanto, não o somos. Rui Veloso disse numa música dele uma frase que eu considero verdadeiramente sábia: "Muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa".


Pensem nisso.

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