quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Memórias

Neste mesmo deserto perdi um amigo. O meu irmão. Matei-o. Vejo a sua campa do topo deste rochedo onde estou sentado. Perdi tudo ao vê-lo partir. O tempo corria deserto fora a acelerar a bala. Nem olhei para baixo quando caíste. Desperdicei tudo para te ver partir. As coisas já não são o que eram. Da forma que estou, já nem me reconhecerias. Triste, não é? Ficou tudo tão distante e a dor regressa sempre ao meu espírito, mas todas as memórias que tenho só servem para me afogar nelas. Já nada interessa. não quero que chores por mim. Não precisas levantar-te da tua campa. Não ias ver nada importante. Já não sou importante para ti nem para ninguém. Perdi tudo. Já não sou como tu. Tu estás vivo nas memórias das pessoas, mas eu fui esquecido. Fui esquecido porque me esqueci de mim. Agora sou algo diferente do que conheceste. Vivo fora do tempo, irmão. Com isso perdi tudo o que alguma vez significou algo para mim.

Levantei-me e aproximei-me da campa do meu irmão. Sento-me na terra, encosto as costas à lápide gelada. "Tão fria... Vai partir-me os ossos" pensei.

"Sei que ouves o meu pensamento, irmão."... Sinto-o na tua agonia. Não me podes salvar. Sei que mesmo assim queres tentar, mas já estou há muito fora do teu alcance. Não me podes salvar. Não podes mesmo.

Levantei-me e olhei para a campa. "Até um dia destes, irmão".

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